Publicado em: 14/07/2021
A espécie Sagui-da-serra-escuro - Callithrix aurita, é um dos 25 primatas mais ameaçados de extinção do mundo e foi encontrada em áreas de floresta próximas ao encontro dos rios Piranga e do Carmo (local de formação do rio Doce), por pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV). A espécie é ameaçada pela destruição das florestas, pela introdução humana de saguis invasores e por ter, em 2015, sua área de ocorrência afetada pela passagem de rejeito proveniente do rompimento da barragem de Fundão (Caso Samarco). Estes saguis invasores competem por recursos e cruzam com espécie nativa, gerando animais híbridos e provocando o seu desaparecimento. O pequeno primata é nativo da Mata Atlântica e não existe em nenhum outro local do mundo.
Os pesquisadores, Felipe Santos Pacheco e Larissa Vaccarini Ávila, coordenados pelo Professor Fabiano Rodrigues de Melo, do Centro de Conservação dos Saguis-da-Serra – CCSS da UFV, realizaram campanha de investigação no período de 29 de junho a 02 de julho, no território de Rio Doce, Santa Cruz do Escalvado e Ponte Nova. A investigação preliminar foi realizada em 30 pontos, sendo que em seis deles foi registrada a presença do primata, com grande proporção de animais híbridos em relação aos puros, o que é alarmante.
Após investigação, os pesquisadores sugeriram que seja criado um programa local voltado para a conservação do Sagui-da-serra-escuro, que abarque a pesquisa científica, a educação ambiental, a divulgação científica, o manejo integrado e o bom uso das políticas públicas.
Este trabalho é resultado de uma reinvindicação dos atingidos através do Centro Alternativo de Formação Popular Rosa Fortini, assessoria técnica independente dos atingidos de Rio Doce, Santa Cruz do Escalvado e comunidade do Chopotó (Ponte Nova).
Motivo da investigação
Em 2020, o EIA (Estudo de Impactos Ambientais) das obras da Fundação Renova em Rio Doce e em Santa Cruz do Escalvado, informou a provável extinção do Sagui na localidade. No entanto, o mesmo documento ambiental, trouxe relatos de moradores sobre a existência dos macacos nos municípios.
Para eliminar dúvidas sobre a existência do Sagui-da-serra-escuro em áreas afetadas pela passagem do rejeito no Território, a Câmara Técnica de Conservação e Biodiversidade (CTBio), a pedido da população atingida, acionou o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) sobre um possível levantamento. O Instituto indicou alta probabilidade de ocorrência da espécie no Território, considerando os registros de 1997 da presença do Sagui-da-serra-escuro, em sua forma pura, feito pelo Professor Fabiano de Melo, membro do Grupo de Assessoramento Técnico (GAT) do PAN Primatas da Mata Atlântica e Preguiça-de-coleira (PPMA), coordenador para o Brasil e Guianas do Grupo de Especialistas em Primatas da IUCN (PSG/SSC/IUCN) e coordenador do Centro de Conservação dos Saguis-da-Serra – CCSS da Universidade Federal de Viçosa.
A resposta positiva da ICMBio e o pedido da população atingida motivaram o Centro de Conservação dos Saguis-da-Serra da UFV a realizar uma investigação preliminar “in loco” sobre a possível ocorrência do primata ameaçado na localidade.
Plano de Ação para Conservação da Biodiversidade Terrestre
O Sagui-da-serra-escuro é uma das espécies alvo no Plano de Ação para Conservação da Biodiversidade Terrestre que tem como objetivo a recuperação e conservação da biodiversidade terrestre da Bacia do rio Doce, sendo estruturado por ações de cunho reparatório e compensatório para toda área potencialmente afetada pelo rompimento da barragem de Fundão.
O Plano foi desenvolvido pela Fundação Renova e pelo instituto de pesquisa Bicho do Mato, envolvendo vários pesquisadores brasileiros. Ele prevê ações em até 5 Km de cada margem dos rios do Carmo e Doce e busca a recuperação e conservação de espécies ameaçadas de extinção.
Pesquisadores da UFV em busca do primata